ÉTICA e CONFLITUALIDADE no TURISMO

O ambiente laboral de um operador turístico, requer, muita sensibilidade e sentido de responsabilidade, por parte de todos os trabalhadores e um forte sentido de trabalho em equipa. Surgem esporadicamente conflitos que por vezes desenvolvem-se em greves com processos em tribunal e outras guerras nem sempre bem compreendidas.
As disputas entre trabalhadores e entidade patronal, são normalmente longas e ninguém sai a ganhar, exigindo posições equilibradas e ética. A situação de disputa sendo porventura muito difícil, requer bom senso das duas partes e sobretudo dos líderes. Quando as posições se extremam, a greve surge muitas vezes como último recurso e como forma de pressão.
Esta opção é muitas vezes o limite do confronto e gerador de uma dinâmica de perda de respeito e do equilíbrio desejável. É por ausência de os direitos dos trabalhadores estarem dignificados na contratação coletiva de trabalho dos operadores turísticos, que surgem dúvidas sobre direitos e deveres.
Tendencialmente as empresas privadas possuem uma atenção ao ambiente que precede a marcação de uma greve e por antecipação procuram desenvolver medidas que a evitem. São muitos os prejuízos decorrentes de uma greve, para uma empresa e para o clima da organização, com reflexo sobre os trabalhadores.
Os conflitos e denúncias têm sempre uma natureza distorcida que fomentam ambientes de trabalho podres e indesejáveis. As empresas ligadas ao setor do turismo dependem do ambiente de trabalho e da satisfação dos seus clientes, elemento determinante no sucesso da organização. Outro fator detonador de conflitualidade resulta das “cunhas” para contratar pessoas não seguindo a via da transparência e da seleção e recrutamento técnico mais ajustado ás necessidades da empresa.
As ‘cunhas’ são uma forma de corrupção, muito comum em Portugal e que deve ser eliminada da prática comum. Elas são desde logo um problema para “o protegido/a” pois ficará sempre com um anátema que o perseguirá toda a vida na empresa. É também um sinal contrário ao respeito pela comunidade dos trabalhadores da empresa, pois reforçará a desconfiança e sentimentos de falta de transparência, contrários á motivação, ao respeito e à dignidade humana.
O mérito e a qualidade, elementos chave na formulação do respeito e da motivação, ficam seriamente afetados levando á desmotivação e afrouxamento das dinâmicas de exigência e de conquista. Sempre que se contrata um incompetente ele será um problema para todos. A ética deve ser uma prática de transparência de processos que reforce os laços de profissionalismo e de formação de trabalho em equipa.
Uma das conflitualidades mais severa e difícil de tratar é sem dúvida o despedimento de um colaborador. Os despedimentos constituem a situação mais complexa e dramática nas relações laborais, exigindo prudência e muita sensatez. A perda de emprego é desde logo uma rutura com um contrato que legitimamente garantia a sobrevivência do trabalhador. Um contrato é uma força de estabilidade emocional individual e de sustentabilidade.
É a partir dessa força que se formulam ambições pessoais e familiares que ultrapassam a dimensão do indivíduo. É a partir do emprego que se forma o direito ao rendimento indispensável para uma vida com dignidade, de liberdade e de independência. A sua perda provoca uma fratura dessa estabilidade e conquista da liberdade provocando dependência.
No turismo o clima organizacional possui uma influência determinante do funcionamento da empresa e na qualidade do serviço. Trabalhadores felizes fazem um clima organizacional mais favorável ao turismo. Comportamento gera comportamento e é vital um clima de empatia para com turistas. É frequente, nos tempos atuais ver-se empresas a reduzir a sua estrutura de recursos humanos, justificando essa determinação com a necessidade de sustentabilidade da empresa.
A ética no turismo requer uma dimensão humana capaz de compreender que o negócio está intimamente ligado a pessoas e nessa base requer muita sensibilidade e inteligência. Outras conflitualidades resultam quando se verificam acidentes de trabalho, a “escravatura dos talentosos”, o trabalho infantil, a perseguição ás minorias ou à diferença.
A relação direta dos profissionais de turismo com os turistas, desperta a necessidade de garantir condições de operação muito planeadas e estruturadas, evitando situações causadoras de acidentes e de exploração sempre mal aceites e rejeitadas pelos turistas.
O trabalho infantil, a exploração de trabalhadores são repugnantes sendo completamente rejeitadas no setor do turismo. A ética exige uma grande sensatez para atuar por antecipação e contrariar determinadas práticas anti-sociais. As empresas de turismo que melhor compreendem os seus trabalhadores, conseguem uma força mobilizadora capaz de criar um bom clima organizacional e como tal passar um ambiente de felicidade para os turistas.
A ética no turismo exige atitude, sensatez, cooperação e trabalho em equipa, forças que se estruturam no respeito, na motivação e na dignidade humana. Compreender melhor esta dimensão é possível com uma leitura atenta da encíclica ‘laborem exercens’ produzida pelo único Papa operário, João Paulo II, na qual reforça a ideia de que os detentores dos factores de produção e do trabalho conquistam a compropriedade do que produzem em comum.

 

Abílio Vilaça
Professor Adjunto do ISAG
2 fev 2017