Estará a cidade do Porto á altura da responsabilidade de ser o melhor destino turístico europeu?

A cidade do Porto, melhor destino europeu, tem vindo a assumir uma notoriedade em termos turísticos que suscita muitos interesses e análises.

É, pois, neste contexto que faço neste artigo uma reflexão sobre a perspetiva da hospitalidade turística na cidade.
Uma pergunta poderá ser já colocada, a de sabermos se a cidade do porto se pode considerar como uma cidade de hospitalidade turística.

O termo hospitalidade tem vindo a ser utilizado para descrever o conjunto de atividades do setor de serviços à oferta de alimentos, bebidas e acomodação de quem nos visita.
Os profissionais ligados ao alojamento entendem que a palavra hospitalidade é a que melhor se adequa às atividades de hotelaria e catering e por isso usam-na até à exaustão.
Hospitalidade, pressupõe anfitriões dedicados e felizes por receber e acolher em suas casas, visitantes e convidados com quem partilham cultura, bem-estar, amizade, alimentos e acomodação.

Num primeiro momento somos impelidos a confirmar esse estatuto de grande importância quando se fala de destinos turísticos.
Efetivamente o Porto tem vindo a conquistar a motivação de muitos turistas incoming que escolhem a cidade para a visitar em city breaks e short breaks, com tempo médio de 3,1 noites.

A cidade mudou, está a modernizar-se e tem atraído a atenção dos operadores turísticos, face a um conjunto de características que se vêm afirmando como elementos fundamentais, referidos pelos turistas quando questionados sobre a sua experiência na cidade.

Já em 2012, a Mestre Marisa Daniela Gomes Coutinho, na sua Dissertação de Mestrado em Marketing, subordinada ao tema “Estudo empírico exploratório sobre os turistas no Porto”, refere que “Um dos destinos europeus onde se verificou um maior e mais rápido crescimento turístico foi o Porto, que recebe cada vez mais turistas, sobretudo do segmento de city breaks…”, tanto mais que o destino havia, recentemente, sido eleito como o Melhor Destino Europeu, pela European Consumers Choice.

Nessa altura decorria o ano de 2012. Recentemente, o destino Porto, foi novamente eleito como Melhor Destino turístico Europeu, sendo já a 3ª vez que tal acontece.

Uma questão a colocar é – Será que no Porto tudo está bem, e por isso esse reconhecimento?

Uma interpretação mais cautelosa, deve ser efetuada.
Significa sobretudo que entre os destinos que foram considerados, o Porto foi o mais votado, o que é excelente.
Mas como é sabido nada acontece por acaso. Esse mérito resulta de muito trabalho já efetuado, pelos operadores, pelos municípios do Porto e de Vila Nova de Gaia, pela Entidade de Turismo do Porto e Norte, pela Agência de Turismo do Porto, pela Escola e Ensino Superior na preparação de recursos humanos com competências específicas, etc.

Existe uma metamorfose, com resultados extraordinários, que deve continuar a merecer o esforço convergente de todas as entidades que têm no Porto a sua dinâmica e, sobretudo, das entidades que trabalham o negócio do turismo. Estará a cidade do Porto á altura da responsabilidade que lhe atribuíram?

Felizes por estarmos neste patamar de reconhecimento, obriga-nos, no entanto, a aprofundar o estudo e as características da cidade do ponto de vista turístico.
Se por um lado o clima social que se vive contribui para reforçar a imagem da cidade, na competição em que se encontra, com outras cidades europeias, importa questionar por outro lado qual o contributo dos diferentes operadores turísticos para esse reconhecimento?
Neste contexto importa refletir sobre o que resultou natural e espontâneo do que resultou de um projeto para colocar a cidade no topo das preferências europeias. Para manter a expectativa criada junto dos turistas, é necessário continuar a trabalhar para a verdadeira construção de um Destino Turístico de referência.
Teremos de aplicar o Pentagrama de Ouro que o saudoso Prof Ernani Lopes tanto defendia. É necessário qualificar o espaço, e nessa dimensão o esforço das autarquias tem sido generoso, mas existe também um papel para os privados. É necessário qualificar os serviços, os edifícios, os equipamentos colocados ao serviço de todos e que os turistascas também utilizam. As festas e festividades têm de ser qualificadas do ponto de vista turístico e, sobretudo, importa incluir todos os interessados numa dinâmica positiva e de procura da excelência.

Muitos destinos tiveram o seu apogeu e depois foram ultrapassados, quase sempre por que se ficou a dormir “á sombra da bananeira”.

 

Abílio Vilaça
Professor Adjunto do ISAG
15 mar 2017