A Hotelaria no Algarve e na Madeira com o BREXIT
O governo Português assumiu já a importância de aprofundar os acordos bilaterais com o Reino Unido e a necessidade de uma melhor preparação das empresas e empresários par lidar com a situação. No setor do Turismo e da Hotelaria será necessário recentrar estratégias em novas campanhas de promoção quer no Reino Unido quer nos países que vêm
registando crescimento de movimento de turistas incoming para Portugal.
Uma análise mais cuidada com base na interpretação dos dados registados pela PORDATA, sobre o número de dormidas de turistas estrangeiros em Portugal, registou que em 2018, 47.772.427 dormidas em Hotéis, registando os ingleses 9.329.749 de dormidas a que se seguiram os alemães com 6.450.168, os espanhóis com 4.881.685 e os franceses com 4.701.779, sendo que os europeus no seu conjunto representaram 38.806.350 dormidas.
O mercado inglês é um mercado muito importante para todos os operadores turísticos em Portugal, por isso, as perturbações que poderão ocorrer com a entrada do Brexit, terão efeitos diretos na atividade económica sobretudo no
turismo. As preferências dos turistas ingleses pelo Algarve e também pela Madeira induzem que serão os operadores turísticos destas duas regiões os que mais serão afetados. É assim relevante que, as associações empresariais, os
sindicatos, a Comissão de Coordenação do Algarve e o Governo Regional da Madeira, em parceria com os centros de conhecimento e investigação que representam as Universidades e os Institutos Politécnicos trabalhem em conjunto para construir soluções inteligentes para preparar planos de contingência e de desenvolvimento. O ano de 2018 registou já um decréscimos de dormidas de turistas vindos do Reino Unido (menos 516 340 dormidas), quando comparado com o ano de 2017.
O gráfico que se junta demonstra a evolução do movimento de dormidas de turistas do Reino Unido em Portugal, onde é visível a quebra relativa a 2018.
O relatório da Travel BI – Turismo de Portugal sobre o Reino Unido – Mercado em Números, com data de Agosto de 2019, evidencia a quebra de dormidas entre 2017 e 2018 registando variações negativas de 7,3% no Algarve e de 3,3 % na Madeira. Analisando os dados no período homólogo até novembro de 2019 e 2018, apontam já para quebras significativas do número de dormidas. Importa no entanto, aguardar metodicamente pela publicação dos dados do INE e do Eurostat, para poderemos compreender melhor o impacto que já se foi sentindo neste período do “sai ou fica”. Agora que está consumado o BREXIT, será muito prudente acompanhar a situação das dormidas de turistas do Reino Unido em Portugal e não ficar à espera.
Não teremos dúvidas de que o BREXIT vai influenciar o turismo em Portugal para além do setor hoteleiro e de forma geral todo o setor do alojamento. Outros setores de atividade turística como o Golfe, o turismo Cultural, o turismo Gastronómico, o Enoturismo, entre outros registarão quebras significativas de turistas oriundos do Reino Unido. Não poderemos deixar de compreender que o produto turístico corresponde a um produto compósito e inclui uma multiplicidade de serviços de muitos setores de atividade económica. Uma redução significativa de turistas do Reino Unido que não seja compensada com turistas de outras proveniências, terá uma influência negativa no nosso país e sobretudo nas regiões em análise. Os responsáveis pelos museus, restaurantes, pubs, clubes e campos de Golfe, transportes de táxi, casinos, casas de turismo rural e turismo habitação, parques temáticos, empresas de animação turística entre outros, devem refletir cuidadosamente sobre este assunto tão urgente e atual para os seus negócios.
As problemáticas que já se estão a colocar, são:
-os aeroportos portugueses irão alterar os procedimentos de fronteira com os cidadãos ingleses?
-os cidadãos ingleses irão necessitar de vistos para entrar em Portugal?
-os cidadãos ingleses irão ser afetados pelo nível de vida, após o Brexit?
-os hotéis e operadores turísticos especializados no mercado inglês estão a preparar estratégias de atenuação dos efeitos do BREXIT no movimento de turistas ingleses para Portugal?
-a libra inglesa conseguirá ser competitiva numa lógica de BREXIT?
Uma coisa é certa, as empresas internacionais que tinham as suas sedes estratégicas em Londres, mudaram-se para outros países da União Europeia e isso já está a afetar a empregabilidade no Reino Unido.
Os operadores não podem ficar descansados, pois só a promoção não chega, é necessário estudar outros cenários possíveis, como se exige em gestão e em estratégia empresarial.
O BREXIT é um assunto que deveria estar na agenda nacional de todos os operadores turísticos e hoteleiros em Portugal. O conformismo e a inatividade pagam-se muito caro e o país não pode ficar dependente do acaso e da sorte.
Abílio Vilaça
Prof Adjunto do ISAG
3 fev 2020